De 26 a 28 de março, Assis, a cidade italiana de São
Francisco, Itália, receberá mais de 2 mil economistas e empreendedores de 115
países, todos com menos de 35 anos, para participar do encontro “A economia de
Francisco”, contando com representação da baiana Renata Silva de Jesus, a mesma
foi selecionada dentre os jovens, por desenvolver Projeto de
Extrativismo do licuri na microrregião de Capim Grosso, semiárido
baiano.
“A agenda
prevê debates sobre trabalho e cuidado; gestão e dom; finança e humanidade;
agricultura e justiça; energia e pobreza; lucro e vocação; políticas para a
felicidade; desigualdade social; negócios e paz; economia e mulher; empresas em
transição; vida e estilos de vida; e economia solidária.”
Não há razão
para haver tanta miséria. “Precisamos construir novos caminhos”, declarou
Francisco ao convocar o evento. Ele propõe uma economia “que faz viver e não
mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da Criação e não a
depreda.” E afirma a necessidade de “corrigir os modelos de crescimento
incapazes de garantir o respeito ao meio ambiente, o acolhimento da vida, o
cuidado da família, a equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os
direitos das futuras gerações.”
Para
assessorar o encontro, o papa convidou Jeffrey Sachs, Joseph Stiglitz, Amartya
Sen, Vandana Shiva, Muhammad Yunus e Kate Raworth.
Os temas da
desigualdade social e da devastação ambiental ocuparão o centro das atenções.
Segundo o economista Ladislau Dowbor, no atual estágio do capitalismo “não há
nenhuma razão para haver miséria no planeta. Se dividirmos os 85 trilhões de
dólares que temos de PIB mundial pela população, isso equivale a 15 mil reais
por mês, por família de quatro pessoas. Isso é amplamente suficiente para todos
viverem de maneira digna e confortável.”
Hoje, segundo a
FAO, 851 milhões de pessoas passam fome. A população mundial é de 7,6 bilhões
de pessoas, e o planeta produz alimentos suficientes para 11 bilhões de bocas.
Portanto, não há falta de recursos, há falta de justiça. Como não há falta de
dinheiro, e sim de partilha. Os paraísos fiscais, verdadeiras cavernas de Ali
Babás, guardam 20 trilhões de dólares, 200 vezes mais do que os US$ 100 bilhões
que a Conferência de Paris estabeleceu para tentar deter a desastre ambiental.
No
neoliberalismo, o capitalismo adquiriu nova face. Deslocou-se da produção para
a especulação. As fabulosas fortunas estocadas nos bancos favorecem
prioritariamente os especuladores, e não os produtores. Em suas obras, Piketty
demonstra que produzir gera empregos e resulta no crescimento de bens e
serviços na ordem de 2% a 2,5% ao ano. Porém, quem aplica no mercado financeiro
obtém um rendimento de 7% a 9% ao ano.
O agravante é
que o capital improdutivo quase não paga imposto. E a desigualdade de renda
tende a crescer, pois, hoje, 1% da população mundial detém em mãos mais riqueza
que os 99% restantes. A soma das riquezas de apenas 26 famílias supera a soma
da riqueza de 3,8 bilhões de pessoas, metade da população mundial. E, no
Brasil, apenas seis famílias acumulam mais riqueza do que 105 milhões de
brasileiros – quase metade de nossa população – que se encontram na base da pirâmide
social.
Segundo a
revista Forbes, 206 bilionários brasileiros aumentaram suas fortunas em 230
bilhões de reais em 2019, enquanto a economia ficou praticamente estagnada.
Enquanto isso, aos mais pobres cabem os R$ 30 bilhões do programa Bolsa
Família.
Portanto,
como assinala Dowbor, não é o Bolsa Família e a aposentadoria dos velhinhos que
prejudicam a economia, e sim a acumulação de riquezas em mãos de grandes grupos
privados que não produzem, são meros especuladores financeiros. Essas famílias
tinham uma fortuna, em 2012, de R$ 346 bilhões. Em 2019, subiu para 1 trilhão e
206 bilhões de reais. Como em nosso país lucros e dividendos são isentos de
tributação, esses bilionários não pagam impostos.
O objetivo do papa Francisco é que vigore no mundo uma
economia socialmente justa, economicamente viável, ambientalmente sustentável e
eticamente responsável. “